A bicicleta é sua?

Certo dia, não sei por que cargas d’água eu estava andando de bicicleta à noite. Era mais ou menos 20h, estava chegando perto de uma subida. Enquanto me preparava psicologicamente para enfrentá-la, uma criança grita do fim da rua para eu esperar.

Na hora foi muito estranho, pois não esperava ser parado por uma criança, então chega aquele cidadãozinho com mais ou menos 5 anos de idade, e fala: Tem um real tio?


Sabe aquele momento em que até teu coração para de bater? Pois é, eu paralisei e me lembrei que tinha umas moedas na carteira, estacionei a bicicleta, puxei a carteira e entreguei uma moeda de um real para o garoto. Mas não me aguentei e fiz uma pergunta, você estuda aonde? Ele me respondeu dizendo o nome do colégio. Nisso ele olhou para minha bicicleta e pediu: Ela é sua? Sim, é minha, respondi, ele me olhou novamente e disse: muito bonita, mas então beleza obrigado tio, tchau.

Aquele dia se foi pra mim, não conseguia mais parar de pensar naquele menino. Será que foi correto eu dar o dinheiro pra ele? Já ouvi trocentas opiniões a respeito, muitos falam que é errado dar o dinheiro, mas ir até uma padaria e comprar um lanche é correto. Não tinha nenhuma padaria por perto naquele lugar, então essa proposta não dava certo. Outros já me falaram que muitas vezes essas crianças chegam em casa e se não tiver dinheiro acabam apanhando, pois os covardes, digo os pais, mandam seus filhos às ruas para pedir dinheiro, mas já fui informado também que muitos pais batem no filho pegam o dinheiro vão pro bar, voltam e batem de novo na criança ou na mãe.

Tenho certeza que a criança não tinha nem noção do que ela estava fazendo, muito menos saber o que ela pode comprar com um real, entretanto estava lá pelas ruas andando faceira de chinelo de dedo e vidrada na minha bicicleta, creio eu que ele gostaria de ter uma bicicleta também.

Parei pra pensar o que eu estava fazendo na idade dele, certamente não estava nas ruas pedindo dinheiro, mas sim em casa bem alimentado e assistindo televisão ainda por cima.

Então cheguei a conclusão de que nunca existirá uma solução pra isso, enquanto vivermos numa sociedade aonde as pessoas estão mais preocupadas em qual vestido usar para ir em uma festa fazer besteiras ou até mesmo não parar em nenhum momento para ajudar o próximo, vamos continuar vendo crianças pelas ruas da cidade. E o pior não foi eu ficar complexado com o assunto, mas sim um dia que fui contar esta história pra um grupo de pessoas e uma mulher me falou que aquela criança estava querendo roubar minha bicicleta...

Revisão: Márcio Roberto Goes
Imagem: http://goo.gl/ezNyQD

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