Banca de TCC

Gosto de conversar com colegas da faculdade e pessoas que vão passar pelo processo de TCC - Trabalho de Conclusão de Curso, pois pra mim foi uma experiência enriquecedora, escolhi uma tema que eu queria trabalhar, tinha muita curiosidade e fui bem avaliado na banca.

Me formei em fevereiro de 2018 no curso de Engenharia Civil, pela Universidade Alto Vale do Rio do Peixe e para minha surpresa e junho do mesmo ano já fui convidado pela coordenadora do curso e professora da matéria do TCC para participar como avaliador externo dos trabalhos.

Obviamente que fiquei lisonjeado em poder contribuir com minhas arguições. Estava decidido em ser aquele avaliador que tive na banca do meu TCC, ótimos professores que realmente dedicaram o tempo a ler de cabo a rabo e fizeram considerações com objetivo de lapidar o trabalho e corrigir as falhas.

De primeiro momento fui informado pela "rádio corredor" que virei o carrasco das bancas, alguns alunos tinham medo que eu fosse escalado para avaliar o trabalho deles, como sempre, acabei entrando numa crise existencial, me perguntei se era correto a minha conduta em ser rígido nas análises, porém sempre retornava ao exemplo que tive em minha banca, aonde as arguições feitas foram de extrema relevância e que passou despercebido por mim, mas não por um par de olhos atentos. Retornei no outro semestre com a mesma conduta e aquele sentimento de dever cumprido.

Decidido a melhor meu hábito de leitura de livros, não somente os textões de facebook e de jornais, escolhi o livro: "Pedagogia da Autonomia", com a autoria de Paulo Freire, sempre tive uma relutância com a pedagogia, mas conforme fui conhecendo e lendo algumas coisas comecei a mudar esse meu pré conceito sobre o tema e me deparei com um título de um capítulo chamado: "Ensinar exige bom senso", vou deixar o trecho abaixo conforme consta no livro:


Não preciso de um professor de ética para me dizer que não posso, como orientador de dissertação de mestrado ou de tese de doutoramento, surpreender o pós-graduando com críticas duras a seu trabalho porque um dos examinadores foi severo em sua arguição. Se isto ocorre e eu concordo com as críticas feitas pelo professor não há outro caminho senão solidarizar-me de público com o orientando, dividindo com ele a responsabilidade do equívoco ou do erro criticado. Não preciso de um professor de ética para me dizer isto. 

Meu bom senso me diz.

Saber que devo respeito à autonomia, à dignidade e à identidade do educando e, na prática, procurar a coerência com este saber, me leva inapelavelmente à criação de algumas virtudes ou qualidades sem as quais aquele saber vira inautêntico, palavreado vazio e inoperante. De nada serve, a não ser para irritar o educando e desmoralizar o discurso hipócrita do educador, falar em democracia e liberdade mas impor ao educando a vontade arrogante do mestre.

O exercício do bom senso, com o qual só temos o que ganhar, se faz no “corpo” da curiosidade. Neste sentido, quanto mais pomos em prática de forma metódica a nossa capacidade de indagar, de comparar, de duvidar, de aferir, tanto mais eficazmente curiosos nos podemos tornar e mais crítico se pode fazer o nosso bom senso. O exercício ou a educação do bom senso vai superando o que há nele de instintivo na avaliação que fazemos dos fatos e dos acontecimentos em que nos envolvemos. Se o bom senso, na avaliação moral que faço de algo, não basta para orientar ou fundar minhas táticas de luta, tem, indiscutivelmente, importante papel na minha tomada de posição, a que não pode faltar a ética, em face do que devo fazer.

A conclusão que tiro deste trecho é que não podemos ter o receio de apontar o erro, mas que esse apontamento seja para tornar o trabalho melhor e não para desmoralizar o aluno e obviamente que o papel do orientador é importante, mas como somos seres humanos, algumas coisas podem escapar dos olhos daquele que está o tempo todo em cima do trabalho.

Artigo publicado originalmente no Linkedin

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