Teoria da Lotérica

Lotérica é uma ferramenta necessária em nossas vidas. Atualmente o Banco Central determina que boletos que não sejam da Caixa e seu valor seja abaixo de mil reais, preferencialmente devem ser pagos nas casas lotéricas. Para boletos da Caixa o valor sobe para dois mil reais, porém tarifas de água, luz e telefone os bancos não aceitam o pagamento nas agências, somente se for por internet banking ou caixa eletrônico.

Os bancos tradicionais em geral parecem que tem medo de pessoas entrando na agência. O funcionário que cuida das senhas parece que tem todos os argumentos do mundo para não deixar você entrar, e se caso você seja um vencedor e entre, o gerente faz de tudo para que a pessoa acesse o site ou outros meios para resolver o problema. 

Mas o que isso tudo implica nas lotéricas? Pois então, se a pessoa não consegue entrar no banco, possui o dinheiro em mãos e não na sua conta, precisa se deslocar até as lotéricas, que também fideliza clientes com as apostas, as quais arrecadam milhões em concursos semanais.

Porém o objetivo deste texto não é fazer uma análise do fluxo das pessoas e pagamentos, mas sim do comportamento delas nessas casas lotéricas, por isso desenvolvi a teoria da lotérica, ela é bem simples e possui uma metáfora bem próxima da nossa realidade.

Imagine que é dia 10, a maioria da população já recebeu seu salário, o boleto vence hoje, quase todo mundo sempre deixa para o último dia para realizar o pagamento, você provavelmente saiu do serviço, levou uma mijada do chefe, está cansado, quer o quanto antes chegar em casa e se depara com uma fila de pessoas tão grande que não cabem na estrutura da lotérica, e todos que estão na espera se encontram na mesma condição que você. Sim, eu sei, é triste.

Quando você vai até uma loja ou um prestador de serviço, geralmente você quer ser atendido o quanto antes e sair de lá com o produto que você queria, ou com o serviço que você precisava e poder voltar ao trabalho ou até mesmo para a sua casa, mas quando o atendimento demora, tem que ficar esperando, e parece que os minutos não passam, você começa a imaginar que poderia ter ido em vários outros lugares antes, e que teria aproveitado o dia melhor, porém se esperar mais um dia para pagar a tarifa, os bancos agradecem aquele juro que será acrescido... Enfim, o jeito é esperar.

Ou seja, você está cansado, irritado, não tem outra alternativa a não ser esperar, atualmente com os smartphones é comum o pessoal dar uma olhada nas redes sociais, até um certo ponto consegue prender a atenção, mas chega um momento que o cansaço incomoda, ter que ficar de pé por um longo tempo judia. Aí aquela moça que está com o filho sussurra com o cidadão do lado: “Tem oito caixas e eles só deixam dois funcionando, é brincadeira hein!”. 

Chega o momento em que uma das funcionárias que estava atendendo sai para o intervalo (sim, pois os atendentes também são seres humanos e precisam de um descanso), aí o rapaz que está escorado na parede diz: “No momento de maior movimento, eles saem para o intervalo! Isso é um absurdo!”. Um jovem analisando a raiva do companheiro, toma coragem e diz “Toda vez que venho aqui é essa demora, porque não contratam mais pessoas para o trabalho?”. Sem contar que na fila existem vários justiceiros, caso alguém fure a fila, ou cometa qualquer deslize, todos ficam olhando para aquela pessoa com cara de poucos amigos.

Gostaria que nossa sociedade fosse uma eterna lotérica com fila grande no dia 10, não pela demora ou insuficiência no atendimento, mas sim pela justiça que surge nas pessoas, todo mundo analisa a situação e já tem a resposta na ponta da língua, "Contrata mais um!", "Faz um caixa só para apostas", "Agiliza o atendimento".

Contudo, seria bom mesmo, se todo mundo cultivasse essa justiça na política, na escola, nos hospitais, mas não somente a atitude de apenas reclamar, e sim de propor alguma coisa diferente, porém temos a mania de apenas enxergar o erro e esbravejar para expurgar a raiva daquele momento.

Outra análise interessante de se fazer nesse momento, é que todos olham para o seu umbigo, caso o problema seja comigo, movo a terra de lugar se necessário, porém se for com outro, faço de conta que nem olho, aí quando surgem pessoas que defendem as minorias da nossa sociedade, todos fiquem com um pé atrás, se perguntando porque a pessoa se exibe daquela forma, o que ela ganha em troca.

Sejamos justiceiros, é nosso direito reclamar, porém vamos analisar o problema como um todo, as vezes chamar o gerente e propor uma solução, utilizar os canais de ouvidoria no setor público, ligar no SAC da empresa, creio que você vai economizar muita raiva e sua reclamação terá um peso muito maior do que apenas esbravejar na fila.

Imagem: https://goo.gl/6i5ht8

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