Profe por um dia

Essa história é uma das experiências mais loucas que já vivi em toda minha vida, fiquei em dúvida em colocar este texto na série lembranças da infância, mas na época em que aconteceu este fato eu tinha lá por 13 ou 14 anos.

Nesta época eu fiz um curso de design gráfico e com isso fiz um acordo com a diretora do meu colégio para ir a tarde no colégio fazer alguns serviços gráficos para a escola, como: folder, agenda, diário, entre outros. E no fim do mês eu ganhava um salário.


Um dia eu estava tranquilo em uma sala trabalhando no notebook fazendo uma arte para um folder e nisso chega uma mãe que precisava conversar com uma professora. A diretora entrou na sala onde eu estava e me explicou que a professora teria que sair da sala por alguns minutos e precisava que eu fosse cuidar de uma turma. Entrei na sala de aula e vi várias crianças sentadas em um círculo e estava um funcionário do colégio na roda entregando um livrinho para cada criança. Ele recomendou que as criaturinhas fossem folhando as páginas e vendo as figurinhas e quando terminasse era para passar para o amigo ao lado. Quando ele viu que eu entrei na sala se despediu e me deixou lá.

Depois de dois minutos dentro da sala percebi que as crianças não sabiam ler nada, era turma de jardim de infância e naquilo um piázinho jogou o livro dele no chão e arrancou o livro do coleguinha do lado. Tive que intervir e depois de mais alguns minutos ninguém mais estava vendo figurinha nenhuma dos seus livros, passei recolhendo e expliquei que eu iria ler uma historinha para todos. Só não consegui recolher o livro daquele mesmo sujeito que tinha jogado seu livro no chão anteriormente.

Pois bem, lá vai o Gabriel na maior das boas intenções e faz a seguinte pergunta:
- Pessoal, posso ler essa história desta sereia?

Choveu de criança ao meu redor, me assustei um pouco e várias aluninhas começaram a me falar que tinham cobertas daquela sereia, outra tinha um filme e outra tinha um travesseiro. Percebi que a história não agradou muito a ala masculina da sala, fiz outra pergunta e mostrei outro livrinho, naquilo veio mais alguns me informar qual produto que tinha daquela história.

Comecei a ler a dita historinha, ia lendo e mostrando as figurinhas mas, não surtiu muito efeito na sala, só aqueles que já conheciam a história estavam prestando atenção. Nisso o Gabriel tem uma brilhante idéia:

- Galerinha, vamos brincar?

A sala inteira ficou faceira. Pensei: “É agora que me dou bem!” Fui fazendo perguntas até que decidiram brincar de passar o anel. Peguei um anel emprestado de uma aluna e começamos mas, só as meninas que estavam brincando, os meninos começaram com conversa paralela e tinha um sujeito que insistia em se levantar da cadeira, repreendi o moleque e disse:
- Home do céu, sente na cadeira!

Depois de umas dezoito repreensões, ele me olhou com uma carinha de safado e disse:
- Porque que você fala “Home do céu”?

Nisso toca o sinal e no mesmo instante acho que a sala inteira veio ao meu redor pedindo para ir ao banheiro. Foi interessante a dramaticidade que uma das aluninhas fez, ela se contorceu por inteira e me olhou com uma cara de choro. Olhei pra ela e um outro sujeito e perguntei se eles conseguiam fazer suas necessidades sozinhos e me responderam que sim. 

Nesse dia estava chovendo e eu tinha duas opções deixar a sala sozinha e ir acompanhando as crianças até o banheiro ou deixar as crianças irem até o banheiro sozinhas e ficar na sala. Decidi ir até a metade do caminho e voltar para ver como a sala estava. Tinha medo de que algumas crianças escapassem da sala e fossem para a chuva. Outro fato interessante foi quando levei a primeira dupla até a metade do caminho foi quando olhei pra trás tinha um cidadãozinho na porta cuidando pra quando eu voltasse.

Toda aquela galera que queria fazer suas necessidades voltaram felizes da vida. Quando tocou o sinal que tinha acabado o recreio eu não tinha mais controle de nada, até que passa uma funcionária do colégio e eu peço para ela dar uma mão. Nem precisei falar, ela foi reto naquele que já era conhecido por bagunçar e deixou ele de castigo na porta da sala, aliviou a coisa por alguns minutos.

Nessas alturas do campeonato a turma estava correndo pela sala e gritando, quando já não tinha mais solução a professora volta para a sala, nem me despedi e logo saí correndo daquela sala e prometi pra mim mesmo: NUNCA SEREI PEDAGOGO.

Outros detalhes importantes de ressaltar: nenhuma criança saiu ferida, nenhuma criaturinha se molhou e toda essa história durou uns trinta minutos mas, confesso que foi os trinta minutos mais longos da minha vida.

Revisão: Tamirys Taborda
Imagem: http://goo.gl/MExPs8

Comentários

  1. É meu amigo vida de professor não é nada fácil. Ganha mal, é desrespeitado por alunos, pais de alunos, diretores de escola e por uma sociedade inteira que preza por valores na contra mão do desenvolvimento humano... Infelizmente acredito que País sem valorização e condições de trabalho a professores nada será em qualquer período de sua história...

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  2. Olá, Biel, sou professora e não podia discordar mais de você. Pela falta de um correto português na sua escrita, vejo que faltaram bons professores na sua vida. Creio que a profissão requer amor e paciência, e até mesmo os alunos mais complicados têm solução. Espero melhores textos daqui em diante, que não critiquem pessoas que não podem se defender, como as crianças citadas nesta postagem.
    Beijão e bom carnaval!

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